Olá cara leitora e caro
leitor! Hoje venho falar com você sobre algo que me chama bastante atenção nas
classes mais abastadas da nossa sociedade: a presença maciça de babás e
empregadas domésticas nestas famílias principalmente quando há crianças.
E aí disparo
uma série de questionamentos: por que muitas destas famílias necessitam de
empregadas e babás? O que realmente acontece dentro daquela família que os
serviços de casa e/ou os cuidados com os filhos não podem ser exercidos pelos
adultos daquela família? Para ser mais específica na questão: que pilares
conservadores, machistas e até racistas este quadro descrito sustenta? Vem comigo
por que tenho muita coisa para te contar sobre este assunto.
Para começo de conversa,
saibam que as empregadas domésticas, babás e outras mulheres que prestam
serviços domésticos são um dos pilares que alicerçam o machismo no lar. Isto
porque, dentro da lógica machista, as mulheres têm o dever, a obrigação e, quem
sabe, até o dom natural de servir os homens.
Graças a elas, os homens têm à sua
disposição uma mulher, normalmente pobre, negra e, em muitos casos, menores de
idade, para atendê-los de maneira permanente e a qualquer momento. Mas espere:
onde estão as mães, esposas e companheiras dentro desta lógica machista no lar?
Aí é que entra a
questão!!!Aquelas mulheres, sejam mães ou não, que adentraram ao mercado de
trabalho ainda não conseguiram ( espero sinceramente que um dia consiga) se
livrar da responsabilidade total e irrestrita do cuidado relacionado à casa:
limpeza, organização, preparo das refeições e por aí vai.
Como sabemos que esta
mulher é consumida por uma grande sobrecarga de trabalho e/ou uma alta jornada
do mesmo seja para conseguir ter a mesma remuneração do seu colega de trabalho,
seja para provar e demonstrar que têm competência suficiente, os dois ou
qualquer outra desigualdade de gênero no trabalho que ela precisa superar,
então, será de suma importância ter uma empregada e/ou babá em casa para
atender o senhor machista em casa.
Será de inteira responsabilidade
e obrigação da mulher administrar, atribuir e fiscalizar as atividades
exercidas pelas babás, empregadas e qualquer outra pessoa que venha prestar
serviços do lar. Nesta lógica, caberá somente ao homem realizar o pagamento.
Ele não quer se envolver muito nestas questões de mulher!!!
Mas você pode perguntar:
vejo uma quantidade cada vez maior de homens que AJUDAM suas mulheres em casa?
Será que este cenário não está mudando? Bom, vou desconstruir alguns pontos:
AJUDAR não é sinônimo de igualdade de condições na divisão de tarefas seja em
sua complexidade e/ou quantidade ( ou não diga se esta AJUDA não é uma das
tarefas a seguir: colocar o lixo na calçada, colocar águas nas plantas ou
realizar poucas e pequenas tarefas em casa).
Outra pergunta: quem disse
que a mulher está a passos cada vez mais largos de alcançar esta igualdade de
condições enquanto isto for classificado como AJUDA??Lembremos que ajuda, por
si só, é algo que você faz sem OBRIGAÇÃO e quando QUISER.
Por aí já dá para
tirar algumas conclusões tais como certa essencialização e naturalização destes
dons femininos não é mesmo?Infelizmente nada mudou muito da época das nossos
vovozinhas até hoje. Os discursos ficaram mais bonitinhos para cobrir ou
amenizar algo que toda mulher trabalhadora sente!
Mas voltando para a linha
principal do texto. Agora você pode perguntar: e aquelas mulheres que não
trabalham mas têm um exército de funcionários ao seu dispor? Vamos lá: antes
mais nada, quero deixar algo bem claro aqui: todas as mulheres, sejam aquelas
que estão no mercado de trabalho ou não, merecem ser RESPEITADAS.
Devemos
combater firmemente todo e qualquer tipo de discriminação contra as donas de
casa independente da classe social que ela pertença. Tenhamos sororidade! Sou
totalmente contra qualquer alcunha de dondoca, burguesa, riquinha, nada-faz ou
outros adjetivos que tentam impor para estas mulheres pois, estaremos
fortalecendo um discurso de produtividade do capitalismo que trata como escória
humana quem está fora do seu jogo e ,principalmente, do machismo que
desvaloriza permamentemente esta posição ocupada por algumas mulheres.
De qualquer forma,
teremos uma mulher que coordena um exército grande ou pequeno de pessoas para
que tudo esteja em ordem, limpo e à disposição do grande senhor. E isto não se
resume somente a casa. Ela também deve estar em ordem, em forma, linda e à
disposição do homem da casa. Já deu para perceber que as coisas não são tão,
digamos, fáceis para esta mulher?
Claro que ela vai desfrutar das benesses e
privilégios de acesso a bens e serviços que suas empregadas, muito
possivelmente, não vão desfrutar em suas vidas. Mas, meu caro leitor e cara
leitora, tudo isto tem um preço! Para que o cenário traçado acima fique mais
claro e emblemático, mesmo que seja de algo mais extremo, vamos lembrar da
violência doméstica que uma famosa atriz sofreu este ano pelo seu marido
bilionário. Lembram?
O que eu estou tentando
passar para você é que a condição de ser mulher, independente da sua condição
econômica, vai impor uma série de limitações, barganhas, desvalorizações e
outros sofrimentos objetivos e subjetivos. Cada uma de sua maneira.
Evidentemente que ser mulher, pobre e negra potencializa todo tipo de
desigualdade!!
Para finalizar o texto,
vou jogar mais farinha neste angu: acredito que você já ouviu reclamações,
chateações e queixas destas mulheres de classe média ou abastadas a respeito de
suas empregadas ou babás não é mesmo??O que acontece?Muita calma nesta hora.
De
um lado, temos mulheres que exercem com o máximo de esmero as questões de
limpeza, ordem e disciplina no cuidado
de casa. Para muitas, a casa é uma extensão da sua personalidade, moral e até
respeitabilidade perante familiares e outros círculos que pertençam. Assim, ter
a casa limpa e organizada é como um certificado de mulher cuidadosa e
respeitada.
Por sua vez, temos
mulheres pobres e negras que não são percebidas por este sistema “belo, em
ordem e do lar” como representativas disto pelas mulheres que a contratam não é
mesmo? Então, por mais que elas realizem seus serviços com cuidado e asseio,
muitas de suas patroas não vão estar satisfeitas com o que elas fizeram. Sempre
faltam algo!
Mas, mas.. estas mesmas empregadas estão mergulhadas na mesma
lógica machista do lar daquelas patroas. Assim, a palavra do grande senhor
daquele lar terá mais autoridade que a sua patroa. Então não é nenhuma
reclamação sem fundamento quando algumas destas mulheres falam que suas
empregadas respeitam mais os seus maridos.
Só que entenda algo: não é por
maldade ou malícia como muitas destas mulheres alegam. Simplesmente quem deve
ser respeitado e até temido é o homem naquela casa. Por isso que este cabo de
guerra acontece!
Então o resumo da ópera
é: ter a disposição pessoas direcionadas para o realização de atividades
domésticas só alicerça cada vez mais costumes e valores machistas. Então vamos
desempregar milhares de empregadas e babás com carteira assinada caso isso
acabe não é mesmo?
Bom a análise não é bem imediata. Vamos voltar atrás um
pouco: o que é faz com que estas mulheres pobres procurem este tipo de
trabalho? É falta de escolaridade suficiente para ser candidata a outra
atividade não é mesmo? Além disso, é bom recordar que o nosso mercado de
trabalho é mui amigo(para não falar o contrário) na seleção e contratação de
mulheres pobres, com filhos e negras não é mesmo?
Este texto foi mais longo
que os demais mas sempre com o mesmo propósito: desconstruir, desnaturalizar e
ser um gota no oceano na busca de uma vida mais justa e menos violenta para
todas as mulheres!
Fiquem em paz! Até a
próxima!
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