Você, cara leitora, já se
sentiu invisível ou desqualificada em momentos de reunião social ou
profissional? Já se perguntou o que estava fazendo ali e teve vontade de sumir
do local? Ou mesmo não recebeu a atenção de um vendedor de loja quando estava
na companhia de um homem, ou seja, o vendedor deu atenção para aquele que
supostamente decide a compra?
Talvez esta última
situação não seja tão comum. Mas qual mulher não teve que apresenta um sorrisinho
sem graça e sociável quando homens falavam piadas ou comentários, no mínimo,
maliciosos sobre as mulheres?
São pequenos gestos,
silêncios, falta de atenção e desqualificação da presença feminina em ambientes
públicos e até mesmo privados que demonstram como o machismo pode se fazer
presente sem muita visibilidade.
Muitas mulheres costumam
ser silenciadas por gestos impacientes, suspiros de enfado, olhares
recriminadores, desvios de atenção, mudança no assunto central do diálogo ou
pelos clássicos: ” Vai começar outra vez” ou “. Não comece! ”. Mas alguns podem
estar pensando?
”Ah, também existem
mulheres que falam demais e por isso, eu perco a paciência. ” Daí eu pergunto:
“Por que existem mulheres que estão sempre falando muito? Será que você
REALMENTE escutou o que ela tem a dizer? Ou direcionou sua atenção para aquilo
que você quer?
Não quero aqui travar uma
batalha contra os homens, mas apresenta como o machismo deixa armadilhas para
homens e mulheres. E estas armadilhas repercutem na qualidade dos relacionamentos.
Muitas mulheres se sentem aviltadas e menosprezadas quando são exigidas ter
inteira disponibilidade para atender as demandas dos homens em diferentes
ambientes da sua vida.
Assim, não é difícil encontrar
mulheres que devem (isso mesmo é obrigação!) Trazer água, café, procurar
números telefones e fazer uma infinidade de tarefas pequenas que consomem o
tempo da mulher. Afinal, estas tarefas são coisas de mulher.
Dentro destas situações
apresentadas, o que fica claro é que o conforto do homem é mais precioso e útil
do que o da mulher.
Mas para que esta
situação se construa, cabe lembrar que, muito possivelmente, este homem APRENDEU
que as mulheres devem ter seu tempo e espaço disponíveis para ele e, ao mesmo
tempo, aquela mulher que atende a todas as demandas do homem, também APRENDEU
que este é o seu dever.
Assim, o machismo é uma
forma de enquadrar e aprisionar homens e mulheres em papéis pré-definidos.
Com estes papéis
pré-definidos, criamos uma legião de homens e mulheres inúteis. Os homens não
sabem preparar seu café-da-manhã, falar sobre seus sentimentos, costurar um
botão, fazer tarefas domésticas como varrer, lavar louça, cuidar das
crianças...
E o que costuma ser engraçado é que muitas
mulheres se apressam em intervir rapidamente quando eles experimentam entrar em
atividades “femininas”: “Saia daqui, pois você vai queimar a comida! ”, ” Esta
camisa está malpassada. Eu vou passá-la novamente! ”
E é assim neste jogo que os homens se declaram
incompetentes e inaptos para exercer as atividades domésticas. Ao mesmo tempo,
as mulheres fazem uso deste discurso para reservar uma quantidade de atividades
e habilidades domésticas para si e com isso, encontram uma forma segura de se
tornarem indispensáveis.
Por outro lado, as
mulheres se declaram incompetentes para resolver grande parte dos problemas
cotidianos como: trocar uma lâmpada, pendurar o quadro e, principalmente,
atividades de manutenção do carro. Muitas nunca aprenderam e nem cogitam a
possibilidade de aprender.
Este tipo de atitude potencializa a dependência das
mulheres em relação aos homens bem como dá margem a ideia de que realmente
existem áreas femininas e masculinas.
O que gostaria de deixar
claro é que tanto homens como mulheres precisam experimentar atividades e
habilidades diversas na vida. Mas isto só será possível se tivermos alterações
substanciais na maneira como meninas e meninos são educados em diferentes
âmbitos da sua vida.
A curiosidade e o
experimentar são ceifados pelo discurso e por práticas machistas. Muitas
crianças são recriminadas de diferentes maneiras quando tentam adentrar em
atividades e habilidades do sexo oposto. E este trânsito é mais bloqueado
principalmente para os meninos que queiram brincar e interagir com “coisas de
menina”.
E assim vamos separando
homens e mulheres em caixinhas herméticas cujas possibilidades de comunicação
são interrompidas ou prejudicadas pela omissão, menosprezo, desqualificação ou
silêncio patrocinados pelo discurso machista e estereotipado.
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