Não é incomum encontrar
este questionamento nas palavras de familiares, amigos e até desconhecidos
quando tomam conhecimento de história de mulheres agredidas que não abandonam
os agressores/agressoras. O estranhamento é o ponto de partida para a
elaboração de justificativas simplistas e machistas, dentre elas, a clássica “Mulher gosta de apanhar. ”
Mas, afinal, por que ela
simplesmente não vai embora? O que faz com que muitas mulheres permaneçam em
relacionamentos violentos? Será mesmo que a frase clássica “Mulher gosta de
apanhar” tem fundamento? É sobre isso que vou falar nas próximas linhas.
Antes de mais nada, cabe
esclarecer que a vergonha, o medo e a opressão presentes em relações violentas/
abusivas fazem com que as vítimas se sintam desamparadas, confusas e
desacreditadas das próprias manifestações emocionais do seu mundo psíquico.
Com isso, muitas não se
sentem “donas de si” e “ donas da própria vida” para prosseguir sozinha ou até
mesmo procurar o amparo jurídico da lei Maria da Penha. Além deste denominador
comum encontrado em relacionamentos violentos, outros fatores podem levar a
permanência em um relacionamento abusivo:
1.Medo(novamente!)
A aflição física e emocional de mulheres envolvidas em relacionamentos
misóginos pode fazer com que as mulheres não façam nada para evitar o parceiro
e tolerem o comportamento do parceiro. Além de temer a perda do amor do
parceiro, muitas temem o que ele pode fazer com elas ou mesmo as crianças.
Quando mais desamparada se sente, mais opressores são seus medos.
2.Fisgadas
pelo amor:
Por causa da intensidade de seus sentimentos
amorosos, muitas mulheres toleram um relacionamento amoroso violento para
experimentar bons momentos. Elas acreditam que o sofrimento emocional é um
componente de qualquer relacionamento amoroso.
3.O paradoxo do amor independente:
Muitas mulheres acreditam que sua existência
emocional está vinculada ao amor do parceiro. Seu senso de valor está atrelado
à avaliação do parceiro e desconsidera todas as realizações que tenha feito na vida.
Assim, para ela, a coisa mais importante é a necessidade de amor do parceiro.
4.A
esperança
A esperança de que o parceiro mude, a
intensidade do amor e a esperança de que algo aconteça e ele mude são aspectos
que fazem com que ela permaneça no relacionamento e fique numa posição
vulnerável aos insultos, mudanças de humor e humilhações do parceiro.
5.A
presença da violência em seu meio social
Muitas vezes, as vítimas
inseridas em ambientes sociais violentos não percebem ou naturalizam este tipo
de condição em suas vidas até mesmo as sutis. Com isso, elas/eles não buscam os
dispositivos legais para reivindicar os seus direitos.
6.
A lavagem cerebral empreendida pelo (a) agressor (a)
A lavagem cerebral foi um
mecanismo utilizado em prisioneiros de guerra constituída pelas seguintes
fases: isolamento, enfraquecimento da vontade própria da vítima, vivência de
medo e culpa diante das agressões e entorpecimento emocional.
O isolamento é
caracterizado pelo afastamento progressivo e/ou definitivo do convívio com
amigos, familiares e pessoas do trabalho. Em relação a este último ambiente,
muitas (os) são impedidos de trabalhar. Isolada (o), agora ela (ele) será
condicionada a ter os seus pensamentos voltados para o (a) agressor (a).
Depois, sua própria
vontade é enfraquecida e entorpecida para que a vítima fique submissa. Assim,
ela não terá força emocional para sair da situação abusiva bem como sentirá
culpa pelos acessos de fúria e as agressões sofridas.
7.
“A distância pode fazer com que ele mude”
Algumas vítimas conseguem
sair da companhia de seus (suas) agressor (as) mas, elas acreditam que este
afastamento visa corrigir/ adequar o comportamento do agressor. Assim, ocorrem
várias idas e vindas até que ocorra a separação definitiva.
Com isso, percebemos que a questão de sair de
um relacionamento violento é complexa e com isso, justificativas tais como:
“mulher gosta de apanhar”, “isto é falta de força de vontade”, “ ela está
acomodada à situação”, dentre outras, são descabidas, alimentam os estereótipos
de gênero e outros pensamentos simplificadores, generalizantes e
preconceituosos sobre a vítima.
O tratamento de uma
vítima psicológica requer acolhimento, discernimento prático e paciência para
que ela consiga dar nome a situação vivenciada o que constitui o primeiro passo
rumo à saída desta relação.
Além disso, nas agressões
físicas, torna-se imprescindível o apoio familiar e social para que ela consiga
acioná-los para fugir/proteger das explosões de fúria/raiva do (a) agressor
(a).
Por fim, gostaria de
assinalar que a violência contra a mulher é mais uma expressão de uma sociedade
autoritária, patriarcal e machista que busca encaixar, moldar e engessar homens
e mulheres dentro de caixinhas que sufocam e roubam a vivacidade, a
originalidade, e principalmente, a dignidade humana.
Até mais!
Karine David Andrade Santos
Psicóloga CRP-19/2460
www.eporelas.com.br
ondelaquiser@gmail.com
É desse geito mesmo !!!
ResponderExcluirÉ desse geito mesmo !!!
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