Olá caro (a) leitor (a)!
Você já conheceu algum homem que fica muito bravo quando alguém diz que ele
está medo? Ou mesmo já viu um pai ou mãe fala para um menino que “homens não
choram! E aquele homem que ficou “roxo de vergonha” diante de uma situação vexatória,
mas, ao invés de admitir ou lidar com isto de maneira mais saudável, ficou
furioso ou irritado e reagiu com muita violência?
Pois é. A questão que
fica no ar é a seguinte: por que existem tantos homens que não conseguem lidar
com emoções básicas tais como medo, raiva e alegria? Será que é natural esta
maneira de muitos homens lidarem com estas emoções? É uma predisposição
biológica?
É sobre isto e muito que
vou falar aqui. Então fica aqui comigo.
Muitos estudos de gênero
já debruçaram seus esforços para avaliar as diferenças na vida afetiva entre
homens e mulheres. Uma das constatações é que a educação emocional das crianças
é distinta para meninos e meninas desde o berço. Assim, as formas de sentir, expressar e lidar com as emoções são moldadas por
parâmetros definidos social e culturalmente.
Isto quer dizer que tanto
meninos e meninas APRENDEM através
da imitação de pais, colegas e de outras pessoas como deve lidar com o seu
mundo emocional. Com isso, eles aprendem que determinadas manifestações
emocionais podem ser aprovadas, outras rejeitadas ou mesmo ignoradas/
desqualificadas.
Vamos trazer exemplos
para tornar a explicação mais palpável: toda vez eu um menino for desqualificado ou reprimido quando expressar o medo, ele vai aprender aos poucos que esta emoção
deve ser censurada e assim, quando adulto, não saberá lidar com esta
emoção. Por sua vez, quando a raiva na
menina é repreendida ou desaprovada pelos pais ou seu meio social, ela também irá reprimir esta emoção e irá
expressá-la de forma indireta.
Mas o que está por trás
desta educação tão diferente direcionada para meninos e meninas? É justamente o
modelo machista. Afinal, ele é a origem de um modelo cultural que constrói
formas engessadas e pré-definidas sobre o que é ser homem e ser mulher.
Além disso, o machismo cria uma divisão nos
papéis masculinos e femininos principalmente no campo afetivo. E isto fica
muito claro quando este modelo dita que
os homens devem se distanciar o máximo possível de qualquer manifestação
emocional feminina para que possa manter sua virilidade e masculinidade.
Assim, as emoções são classificadas entre permitidas e proibidas para homens e
mulheres de acordo com a ótica machista.
Dentro deste aspecto,
fica o questionamento: será mesmo que existiria uma predisposição biológica na manifestação emocional entre homens e
mulheres? Ou será algo estritamente construído pelo meio sócio- cultural? Ou
será algo multifatorial?
Bom, existem uma
infinidade de estudos que apontam para uma
vertente biológica bem como outros apontam para as influências socioculturais e
outros tantos para as questões multifatoriais. E aí quem estará certo? Penso
que, de acordo com os nossos valores e visão de mundo, escolheremos uma das
duas vertentes para explicar estas diferenças na expressão emocional. Mas algo
posso citar neste texto: precisamos,
enquanto conjunto social e cultural, resolver diferenças e desigualdades antes
de utilizar qualquer explicação biológica. Mas por que?
Recordemos que não faz
muito tempo (a Segunda Guerra Mundial é um exemplo clássico para isso) que muitas explicações biológicas e
“comprovadas cientificamente” foram utilizadas para justificar atrocidades, aprovar determinados arranjos discriminatórios entre os
povos ou mesmo o uso de dispositivos para extermínio em massa.
Com isso, não estou
querendo invalidar o caráter científico das chamadas ciências naturais ou
biológicas. Não é isso. Mas quero chamar
atenção para a forma como este campo da ciência pode ser utilizada para
justificar desigualdade sociais e modelos discriminatórios como o machismo.
Não é preciso ir muito
longe para perceber o quanto está
presente o discurso naturalizante nas palavras de pessoas comuns, da mídia, da
saúde e de diferentes instituições. É um discurso que tenta explicar,
justificar e moldar determinadas situações resultantes de uma aprendizagem
emocional machista.
Quantas pessoas não falam
as seguintes frases ou mesmo frases parecidas: ” Ah, mas homem é assim mesmo: “não
consegue chorar, falar o que está sentindo e por isso, ele está assim afastando
de todos! ”; ”Eu não tenho medo por isso não vou usar o cinto de segurança (pode
trocar o cinto por qualquer outro dispositivo de segurança ou preventivo). Quem
usa isso é fresco! ”; ”Se você for macho de verdade, você vai beber todas! ”
Será
mesmo que isto é natural? Ou não são as provas de virilidade
aprendidos por homens e até mesmo por mulheres sobre o que é ser viril e macho
de verdade?
Este texto não teve a intenção de trazer a verdade certa e pronta
sobre as questões trazidas até aqui. Mas foi um convite para que tenhamos mais atenção sobre como meninos e meninas
estão educados emocionalmente e que esta aprendizagem não seja interpretada
como uma mera predisposição biológica no futuro.
Até mais!
Karine David Andrade
Santos
Psicóloga CRP-19/2460
Nenhum comentário
Postar um comentário