Você
já observou a quantidade de mulheres quase obcecadas
pela limpeza e estética do corpo ou mesmo conhecedoras dos últimos artifícios,
tecnologias, recursos e uma infinidade de dietas e tecnologias para manter o
corpo jovem e saudável? Esta realidade não é muito diferente se partimos
para o ambiente doméstico. Mesmo com os pequenos avanços na distribuição de
tarefas dentro do lar entre homens e mulheres, ela ainda continua sendo o
centro das decisões quanto a administração, limpeza e organização do ambiente
doméstico.
Afinal
será mesmo que as mulheres são
naturalmente mais organizadas e limpas do que os homens? Os homens
realmente não atentam para os detalhes da disposição dos objetos e organização
do ambiente doméstico? Afinal porque precisamos E DEVEMOS ser BELAS, LIMPAS E DO
LAR? Vem comigo!
Para
falar sobre sujeira e feiura, precisamos voltar no tempo e lembrar do papel da mulher assumido durante o movimento social-puritano
do século XIX. Este movimento era composto por várias organizações e
campanhas que tinham os objetivos de regular, normatizar e controlar
comportamentos de homens e mulheres. Nesta
guerra contra a sujeira e a imoralidade, adivinhe quem ficou responsável pelo
esfregão e a vassoura? Exatamente: as mulheres. Já na questão moral, os
ecos das empreitadas deste movimento se fazem presentes ainda hoje na educação
das meninas como frases populares: Menina, feche estas pernas quando for sentar!
Não arrote e não fale palavrão! Ande como uma mocinha! Isto não são maneiras de
uma menina! Bom, a lista é interminável.
Acredito
que você, caro(a) leitor(a) deve se lembrar de outras.
Através
deste movimento, a virtude, a moralidade
e a higiene se tornaram aspectos relacionados
ao fazer e ser feminino. Com o advento da industrialização e da
higienização do corpo e dos costumes, o espaço público e o espaço privado
tiveram suas fronteiras claramente delimitadas em que o público passou a ser sinônimo daquilo que é sujo e imoral e o
privado, ou seja, o lar assumiu um caráter puro, santificado e guardião da
moralidade e da ordem nacional. E na esteira industrial, a divisão sexual
de trabalho delegou as mulheres o papel adivinhe de que? Zelar pela moralidade e
higiene dos membros do grupo familiar bem como
investir seu mundo psíquico em ser representante principal dos bons costumes,
da limpeza e organização do lar.
Não
estou aqui fazendo um combate a higiene ou qualquer outra medida sanitária que
beneficie a saúde humana. A questão não é essa. Mas como ser limpa ou melhor manter as aparências da casa e do corpo em
ordem e limpo constitui pontos de angústia e sofrimento para mulheres. E
isto ganhou proporções inimagináveis com o crescimento da industrial comercial
e das inúmeras tecnologias. Assim, não é de estranhar que a indústria tenha
altos lucros com as mulheres donas-de casa principalmente de classe média. São elas que ficam apavoradas com as
sujeiras invisíveis dentro de casa, as rugas imperceptíveis, a pequena flacidez
do corpo e os angustiantes sinais da passagem do tempo em seu corpo.
E por
falar neste corpo feminino, vamos pincelar sobre esta relação não muito
amigável que as mulheres estabelecem com ele.
Para
começo de conversa, praticamente boa
parte das religiões abominam o corpo feminino. Em seus escritos, doutrinas e
outras formas de expressão, eles o associam seja de maneira isolada ou
associada a uma imagem de impuro, imoral, sujo e origem de muitas mazelas do
mundo. Mas o que é que isso está relacionado com a relação com o nosso
corpo? Vamos lá. Por muitos séculos, o regramento social era ditado por
convicções religiosas e neste contexto, as mulheres eram classificadas como
seres inferiores e o seu corpo era revestido por certa conotação perigosa ou
mesmo diabólica.
Enfim, nós não éramos
vistas como flor que se cheire.
E
digamos que esta marca histórica está
presente até hoje de uma forma ou de outra nas relações sociais. Isto explica
por que é muito fácil jogar a pedra na Geni, ou seja, estuprar, violentar e
agredir as mulheres de uma maneira geral. É preciso sujeitar e subjugar “este
corpo mal”. E disto nem mesmo as
próprias mulheres escapam quando se relaciona com os seus corpos. Assim,
elas adotam todos tipos de intervenção, exercícios, dietas, recursos, cirurgias
e intermináveis procedimentos para que este
corpo, quem sabe um dia, seja belo, em forma, limpo, belo e quase santo.
Em
suma, o que eu quis deixar foi uma reflexão sobre que o quanto as mulheres se maltratam seja para manter a aparência do lar,
do corpo e até dos nossos relacionamentos para que conservamos o nosso papel de
paladinas da moral, da ordem, da higiene, da forma e da estabilidade. O
quanto você está se sacrificando para manter “as aparências”? Ah e antes que
você veja estas mulheres obcecadas por
limpeza ou pelo corpo e denominem de fúteis, superficiais ou sem miolos,
perceba que, conforme foi explicado por tintitim por tintitim, que isto não foi
uma mera questão de escolha individual. Há muita coisa dentro deste latifúndio!
É
isso! Até mais!
Karine
David Andrade Santos
Psicóloga
CRP-19/2460.
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