Olá! Olá! Tudo bem? Cá
estamos em um mais um texto. E este é bem especial pois, hoje é Dia
Internacional da Mulher! E você, minha cara leitora, já deve estar passando por
aquela situação, no mínimo, inquietante, de ser parabenizada, louvada e
reconhecida neste maravilhoso dia!! ÊÊÊÊÊÊ, uma salva de palmas para a mulher!!
Brincadeiras e ironias
à parte, vamos falar sobre como nós (estou me incluindo) que sentimos aquela
inquietação, aquela cara de pastel que fazemos quando somos parabenizados ou
até mesmo um susto pelo elogio neste dia pelo mais machista que você conhece. (Diga se você já recebeu um abraço ou um
aperto de palma desta criatura? Não tenha vergonha, vamos.... Pode falar!).
E aí minhas caras e
meus caros? Por que? Por que nós,
mulheres, nos tornamos estes seres iluminados, glorificados, louvados,
reconhecidos, amados e VISÍVEIS somente neste dia? O que realmente acontece nos
outros 364 dias do ano com este ser? Será que devemos pôr uma pá de cal
neste dia e solta simplórios palavrões que ficam entalados na garganta de
muitas mulheres quando chegam este dia?
Bora lá! Vamos com
calma! Na realidade, este dia faz alusão a trágico dia da história da
humanidade em que várias trabalhadoras em
luta por melhores condições de trabalho morreram queimadas após os seus
patrões terem trancado a fábrica e ateado fogo nas instalações.
E eis que fica a
pergunta: será que este único dia do ano
em que somos lembradas não nos faz lembrar que deveríamos ser visíveis em todo
e qualquer dia do ano? Que a vida de qualquer mulher deve ser respeitada,
VISÍVEL e ser levada em conta dentro mesmo que não esteja dentro de X ou Y
parâmetros?
Assim, seguindo a série
sobre Quebrando mitos, vamos discutir alguns aspectos banais mas que se
revestem de extremo significado.
- “Nem toda mulher é pura emoção”
Bom
esta é uma maldita herança do século XIX em que diversos estudos científicos
demonstravam o quanto a mulher era um ser com as emoções à flor da pele e isto
servia como base para justificar as desigualdades entre homens e mulheres.
Assim, as mulheres deveriam estar
confinadas em seus ambientes domésticos, cuidando dos filhos, da casa e do seu
marido. Além disso, por ser somente este ser emocional, ele teria destreza
intelectual para argumentar, debater ou construir um raciocínio coerente sobre “os
assuntos de homem”.
E
cá estamos nós em pleno século XXI. E aí as coisas mudaram? Não. Digamos que
somente trocamos os adereços, os figurinos e as tecnologias. Hoje esta mulher pode trabalhar. Mas precisa trabalhar, ralar, suar e
demonstrar incansáveis vezes que ela SABE o que faz, que ela tem CAPACIDADE
para ocupar aquele posto de trabalho, que ela MERECE ser reconhecida, enfim,
que PODE TRABALHAR.
O triste é que, apesar de tudo, ela ainda ganha bem menos.
Por que será hein?
Ah
é só para não esquecer ela tem que se virar nos trintas para ser uma mãe e
dona-de-casa exemplar que não deixa suas atividades de casa interferirem no
trabalho e nem seu trabalho interfira nos cuidados de casa e com os filhos. Lembra uma verdadeira trapezista de circo
não é mesmo?
Assim,
conseguimos ter PERMISSÃO do mundo, do marido, do vizinho, da titia e da vovó
para trabalhar. Mas JAMAIS se esqueça de qual é o local mais adequado para você,
ok?
- . Nem toda mulher gosta de cuidar de assuntos domésticos
Antes
que eu dê a impressão que estou rejeitando o trabalho de milhares de donas de
casa, preciso esclarecer algo: TODO
TRABALHO DA MULHER É DIGNO EM QUALQUER AMBIENTE QUE SEJA FEITO e ponto.
Sei
das duras horas trabalhadas por milhares de mulheres em suas casas, de maneira
integral ou não, que não são reconhecidas e nem valorizadas. E aí é que entra a
questão: a obrigação da mulher é cuidar destes assuntos domésticos. E por isso
mesmo, não precisa ser reconhecido e valorizado.
Com
isso, voltamos ao nosso velho reduto do século XIX e XX em que lugar de mulher
é em casa cuidando dos filhos e da casa. E
isto foi tão imposto goela abaixo das mulheres através da educação, da mídia,
da igreja, da família, da escola e de diferentes instituições que NATURALIZAMOS
este aspecto. Assim, parece que nascemos destinadas a sermos organizadas,
cuidadosas e afeitas aos afazeres domésticos.
E
aí quando algumas mulheres destoam um pouquinho desta imposição, elas ficam
sujeitas a olhares assustados e recriminadores, caras de horror, perguntas
inquisidoras e olhares por que não está cuidando do seu devido lugar.
- Nem toda mulher é boazinha.
Coloquei
este termo boazinha de propósito. O que estou querendo falar com o termo “
boazinha”? É aquela pessoa que faz sacríficos,
deixa seus interesses pessoais de lado para atender os alheios, evita
confrontos, engole calada as situações de injustiça e principalmente não quer
desagradar as pessoas ao seu redor. Agradar é o seu lema!
E
é muito comum que associem este papel de boazinha as mulheres. Afinal, a mulher
deve ser dócil, gentil, educada, paciente, conciliadora, resignada e até quem
sabe, um ser invisível que todos usam e abusam. Literalmente!
E
neste vai e vem que a mulher sente este peso de ser algo bonzinho, bonitinho e
de boca fechadinha. Que deve aguentar os abusos na rua, no transporte, no
trabalho e dentro de quatro paredes, que deve ser paciente, tolerante e resignada
com aquele companheiro violento, que
deve sorrir para aquelas piadinhas sem graça e machista ouvidas a torto e a
direita, que deve falar manso e com cuidado quando estiver explodindo de raiva,
que deve ser discreta e falar em tom baixo com as pessoas e por aí vai.
São
tantos os deveres que não cabem em um texto.
Enfim,
amigos e amigas, será que você nunca fez comentários maldosos ou assustados sobre
aquela mulher que “não leva desaforo para casa”? Ou então sobre aquela que não
tolera abuso ou diferença em qualquer ambiente que passa?
Ou (este é um clássico!)
Aquela que fala palavrões, anda onde quer e com quem quiser e não se abala com
os conselhos sobre ser uma menina boazinha?
- Nem toda mulher quer ser mãe.
Ser
mãe. Eis aquele destino escrito nas estrelas e cravados nos ouvidos das
mulheres de qualquer idade que ela deve ser seguir de algum jeito. Te vira
minha amiga! Afinal, toda mulher trabalha, cuida de casa e têm filhos. E ainda
são lindas, maravilhosas e felizes! (Ah as propagandas de margarina…).
“Vai
chegar uma hora em que você vai sentir um desejo de ter filho! ”, “ Você só
sentirá completa como mulher se for mãe! ”, “ Você não sabe a alegria de ser mãe!
”, ” Quem vai cuidar de você quando estiver mais velha? ”
Queridos
e queridas do meu Brasil! A maternidade, o desejo de ser mãe e todos os outros
elementos norteadores desta questão não são SOMENTE biológicos. É uma
combinação de aspectos psicológicos, biológicos, históricos, culturais e
sociais. E aí tchanram: a mulher pode ser mãe ou não!
- Nem toda mulher quer um companheiro ao seu lado.
Muito parecido com a questão da maternidade e
comentado no texto anterior, muitas mulheres se sentem completas, felizes e em
total harmonia consigo nesta condição. E isto pode não ser algo transitório. A solteirice feminina ainda é aceita quando
é algo transitório quando ela está evoluindo na carreira, estudando, em busca
de melhores condições financeiras, enfim, está ocupada com algo que não seja
compatível com um matrimônio ou algo semelhante.
Mas, meu caros, quando
esta mulher tem todos os pré-requisitos para contrair um matrimônio, ter um
companheiro ao lado ou qualquer outra situação do tipo e não segue o que está
dentro do recomendado socialmente......Algo estranho deve estar
acontecendoo...Será que ela é muito ciumenta, grudenta, autoritária.Será que é
tão inteligente que os homens não se aproximam...
Antes de mais nada, sei que muitas mulheres estão solteiras e
querem ter um companheiro. Não há problema nisto de maneira nenhuma! Mas o que discuto
é: por que esta condição de escolher ser solteira não é respeitada?
Assim como na questão
de maternidade, é algo de ordem biológica, psicológica, social, cultural e
histórica. São fatores que governam a vida de cada pessoa. E cada pessoa tem um
contexto específico para estes aspectos assim como em suas escolhas.
- Nem toda mulher quer rosas neste dia
Toda mulher quer ser
respeitada, reconhecida, VISÍVEL, amada, abraçada, elogiada e dignificada nos
outros 364 dias do ano. Toda mulher quer que sua vida não esteja em risco por
que interrompeu um relacionamento. Toda mulher quer que seu corpo, seus
sentimentos e seus pensamentos não sejam alvo de deboches, cortes e qualquer
tipo de abuso seja de ordem física ou psicológica.
Toda mulher quer que suas escolhas sejam respeitadas, encaixadas ou não
nos parâmetros sociais, e ouvidas pelas pessoas ao seu redor. Toda mulher
quer que o seu ser feminino não seja visto como algo defeituoso, feio, maldoso
e burro em sua essência.
Nem toda mulher quer
rosas neste dia. Nem toda mulher quer receber sorrisos amarelos e rostos
hipócritas neste dia. Nem toda mulher quer ser RECONHECIDA, LOUVADA E VISÍVEL somente neste dia. Nem toda mulher
quer receber os gestos de cavalheirismo e os presentinhos neste dia. Nem toda
mulher quer ser levada a restaurantes, cinema, teatro e receber um abraço
carinhoso do seu companheiro somente neste dia.
Nem toda mulher quer receber apoio por qualquer luta diária enfrentada
somente neste dia. Nem toda mulher quer que seu companheiro divida as tarefas
domésticas somente neste dia. Nem toda mulher, infelizmente, sabe que lugar de
mulher é onde ela quiser.
E assim não vou desejar
um mero feliz internacional da mulher. Desejo um feliz 365 dias para “nem todas”
e” todas” mulheres!
Recebam meu ramalhete
de respeito, companheirismo, solidariedade, sororidade e carinho por todas
vocês!
Até a próxima!
Karine David Andrade
Santos
Psicóloga CRP-19/2460
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